quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sentimento Recorrente - Hiper-realidade


Esse foi o primeiro curta que fiz, a oportunidade foi aproveitada por ser o tema do trabalho da matéria Sociologia da Comunicação da Universidade Federal de Alagoas. Meu grupo teria que estudar sobre o conceito de “hiper-realidade”, autoria do francês Jean Baudrillard. Como eu e meu colega Rodolfo Ventura somos admiradores do cinema, decidimos fazer um vídeo diferente, nada de conceitos jogados onde se insiste em palavras que tentam de toda forma deixar claro o tema por sufocamento de informações, queríamos algo mais sutil, transportar toda a complexidade da “hiper-realidade” para uma estória.
A qualidade do vídeo não está muito boa como também as atuações, mas a dificuldade de fazê-lo foi imensa. A edição e a direção do Rodolfo Ventura ainda levantaram muito a qualidade final do vídeo. Para mim, eu queria que analisassem o roteiro, gostei de tê-lo feito, foi bem trabalhoso, mas recompensador.











Por via de dúvidas, aqui está todo o roteiro.


 "SENTIMENTO RECORRENTE"


CENA Um:

Narrador: “Será que sou o único que vê isso? Encarcerado num mundo sem origem nem realidade? Tomara que não, espero que não. Caso contrário, tudo está perdido, a esperança, então, há tempos foi morta.

Cheguei a certo ponto que não sei o que realmente acontece. Se o que está diante dos meus olhos é falso ou verdadeiro... Eu não sei, está além. O verdadeiro significado de tudo parece ter sumido. Se foram os verdadeiros referenciais, só ficaram os sentidos artificiais. A vida agora se assemelha a um sonho, alienação do inconsciente, numa constante vivência que já não é racional, é apenas operacional.”


CENA Dois:

Narrador: “Mais um dia. E novamente sinto que o que vivo é uma constante de memórias e modelos de comandos que se recorrem e multiplicam-se com o passar dos dias. Não sei quando tudo isso começou, embora também ache que não o primeiro a perceber o mesmo.”

Narrador: “Se o mundo notou, por que nada mudou?

[...]

Ele percebeu, a história percebeu, nada se alterou. Pode-se culpar o capital, alimentado pela desestruturação de todo referencial ao favor da lei de troca, pode-se culpar o próprio homem, sedento desse tal avanço tecnológico e racional, exterminador do segredo, do enigmático, do ilusório. Mas na verdade não há culpados, somos todos vítimas e autores desse crime que, assim, caminham paradoxalmente para uma espécie de virtualização onde já não seremos necessários, tudo que é humano e subjetivo tornar-se-á inútil. Sobreviveremos na simulação. Não adianta mais negar, já tinha chegado à essa conclusão antes, e, agora cada vez mais, ela se confirma.

Apresentador: - Bem-vindo de volta, caro telespectador, retornamos com “An American Family”. [Percebe o confuso e irritado narrador] Ei, rapaz. Calma. Pare de se martirizar e relaxe. Sente-se, assista e esqueça o que te incomoda.

Narrador: - Você de novo. [Irritação] Já não basta tudo que fez. Parte disso é culpa sua. Com sua sutileza imperceptível, me observa, não precisa de persuasão, dissuade-me. Assim aboliu-se a questão do sujeito e do objeto, do passivo e do ativo. Agora, eu sou o modelo! Eu sou a informação!

Apresentador: - Ah!!! Então é assim, é? Deixaremos as máscaras de lado, então. Rapaz, por mais que meus métodos sejam discutíveis, ninguém perde a oportunidade de me assistir, todos querem um lugar em frente à TV. Se fui mostrando a profundidade do cotidiano numa transparência excessiva, as pessoas adoravam, meus realities são amados. Crio esse arrepio causado pela realidade, exalto o insignificante e assim vocês podem observar tudo de uma visão microscópica, assim acabo com as distâncias, é como se cá vocês estivessem.

Narrador: - Mas desse jeito não há mais uma visão perspectiva, você não é mais fonte de um olhar absoluto e o seu ideal de controle já não é o da transparência. Já não se vê a diferença entre o que é mídia e o que é transmitido.

Apresentador: - Confusão entre o meio e a mensagem? Quem liga quando se cria a mais bela proeza da televisão! É a mistura indiscernível da vida com a TV. Fim das dualidades, diferenças entre sujeito e objeto, causa e efeito não existem, ajo como o código genético que comanda a substância viva. E ninguém nada pode fazer, você nada pode fazer.
                     
 - E então, rapaz? Qual será seu próximo movimento? Se nem a si mesmo consegue salvar. Você está mais que mergulhado nesse mundo que você tão critica.

Narrador: - Ah!! [Negação] Eu não sei, não sei [Dúvida] Deve haver alguma maneira, você não pode estar certo.
                 - Preciso tomar ar. Preciso andar um pouco e observar as pessoas.



CENA Três:

Narrador: “Quanto mais penso, mais confuso e cético fico. Vejo as pessoas, elas também parecem viver uma simulação regida por falsos referenciais, embora sinta como se elas não se importassem.

Disso tudo que vêem a mim, uma das coisas que mais me intriga é o consumo. Ele se mostra não ter necessidade, não ser racional. Segue-se produzindo muito porque segue-se comprando muito. Esta é a definição de ser livre, é poder consumir, ser dono do próprio nariz... Só do nariz, porque a mente já foi dominada. O objeto consumido perdeu seu valor de uso, criaram funcionalidades extras que vão além das limitações do objeto e é isso que se consome, essa felicidade e vida ilusória é o que se consome.

Acordem! Chega desses falsos sorrisos. Seus robôs inúteis! Não percebem que viraram máquinas?
Trabalha-se para consumir, o trabalho não é mais uma necessidade, é uma imposição. Pelo consumo não há mais liberdade, não se escolhe o que eu vestir, pensar ou fazer. O status, o grupo é a identidade. Somos rótulos ambulantes.

Tento me libertar, mas não faz efeito. Nasci, cresci, vivo nesse mundo alterado. Também é intrínseco em mim e como já é algo interno, faz parte do meu ser.”


CENA Quatro (CENA Um):

Narrador: “Não sou ser único, sou apenas mais um entre todos. Satelizados, encarcerados, presos pelo medo da possibilidade de aniquilação, como de uma bomba atômica, vivendo na ausência de autonomia do agir onde a homogeneização ficará clara, já é clara. [...] Sinto que já ultrapassei o próprio fim para onde não há mais realidade. Tentam exterminar o enigmático e o ilusório, o segredo da vida, a ilusão que a faz especial. Já eles não sabem que a ilusão é a regra geral do universo, a realidade não é mais que uma exceção.”


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